quarta-feira, 11 de setembro de 2013

De virar a cabeça

                                                                          *foto: Jeferson Urias

    O amor entre Domitila de Castro Canto e Melo, mais famosa como Marquesa de Santos, e de Dom Pedro I, nosso proclamador da Independência, foi temperado à melhor moda paulista. Feijão, farinha, cebolas, couve, ovos e carne de porco estavam na lista de compras quando o amante desta senhora estava por chegar em sua residência.  A simplicidade dos preparos de pratos no Brasil Colonial ainda era reinante e com o tempo estes ingredientes foram sendo acomodados melhor entre as panelas e o que era servido em porções separadas acabou se unindo e hoje apresenta-se em receitas como o Virado a Paulista que talvez pudesse ter sido o golpe fatal da Marquesa que tanto almejou ser a rainha consorte brasileira.

    Talvez, se as mucamas tivessem mandado logo para o fogo o quilo de feijão com as duas cebolas picadinhas em miúdos assim como os cinco dentes de alho somados a duas folhas de louro, dois grãos de pimenta-do-reino e uma boa pitada de cominhos e ali deixassem cozinhar sem nada de banha acrescentar até o caldo engrossar deixariam a siesta mais leve para o casal então relaxar. O tempo corria mais devagar e a panela de pressão também ali não havia lugar. Os dois nobres tinham mais tempo para namorar e as bistequinhas de porco por mais hora podiam no suco de um limão e do sal marinar.

    A marquesa que era de Santos sem nunca lá ter morado nasceu em São Paulo e com Brigadeiro Tobias, aquele mesmo que dá nome ao bairro sorocabano, também foi casada. Visitou Sorocaba e região pois aqui eram nobres seus irmãos. Adorava dar festas e não perdia a oportunidade de ostentar seu faqueiro de prata dourada com mais de 22 quilos fora da caixa. Em taças de cristal bacará azul cobalto servia vinhos devidamente portugueses e em lindas porcelas inglesas vinham linguiças e torresmos brasileiríssimos.
Apesar de tudo à época ser bem frito em banhas, as dez bistequinhas e as dez linguiças poderiam perfeitamente seguir ao forno a 200 graus e cobertas assam em 50 minutinhos curtindo sua própria gordura e soltando seu próprio sabor. Neste embalo inove e coloque as bananas também na assadeira e ao invés de fritá-las sirva cozida em tempero da carne.  Os ovos podem entrar na roda das iguarias saudáveis e serem feitos no melhor estilo pochè: em água fervente com cinco gotinhas de vinagre, depeje seu ovo com cuidado e deixe ali ele cozinhar um pouco antes de seguir  para o prato.

    Com tudo já assado, esquente o fundo de uma frigideira com duas colheres de sopa de água e uma de sobremesa de açúcar. Rasgue as folhas de um maço rechonchudo de couve e jogue ali salpicado com uma generosa porção de sal. Volte sua atenção para a panela de feijão, solte bem lentamente o conteúdo de uma xícara de farinha de mandioca e um maço de cheiro verde bem picadinho. Misture tudo até obter um feijão bem cremoso.


    Pelos dias de hoje podemos manter como tradicional o imbatível arroz branco. Afinal, nem tudo é novidade. Apenas vestimos novas roupagens. Política e amantes continuam a se misturar nas páginas de nossas histórias assim como novas receitas de velhos pratos e jovens dons pedros e poderosas domitilas são vistos e revisitados em mesas e ruas de todo Brasil em setembros do século XXI. 

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