O amor entre Domitila de Castro Canto e Melo, mais famosa como Marquesa
de Santos, e de Dom Pedro I, nosso proclamador da Independência, foi temperado
à melhor moda paulista. Feijão, farinha, cebolas, couve, ovos e carne de porco
estavam na lista de compras quando o amante desta senhora estava por chegar em
sua residência. A simplicidade dos
preparos de pratos no Brasil Colonial ainda era reinante e com o tempo estes
ingredientes foram sendo acomodados melhor entre as panelas e o que era servido
em porções separadas acabou se unindo e hoje apresenta-se em receitas como o
Virado a Paulista que talvez pudesse ter sido o golpe fatal da Marquesa que
tanto almejou ser a rainha consorte brasileira.
Talvez, se as mucamas tivessem mandado logo para o fogo o quilo de
feijão com as duas cebolas picadinhas em miúdos assim como os cinco dentes de
alho somados a duas folhas de louro, dois grãos de pimenta-do-reino e uma boa
pitada de cominhos e ali deixassem cozinhar sem nada de banha acrescentar até o
caldo engrossar deixariam a siesta mais leve para o casal então relaxar. O
tempo corria mais devagar e a panela de pressão também ali não havia lugar. Os
dois nobres tinham mais tempo para namorar e as bistequinhas de porco por mais
hora podiam no suco de um limão e do sal marinar.
A marquesa que era de Santos sem nunca lá ter morado nasceu em São Paulo
e com Brigadeiro Tobias, aquele mesmo que dá nome ao bairro sorocabano, também
foi casada. Visitou Sorocaba e região pois aqui eram nobres seus irmãos.
Adorava dar festas e não perdia a oportunidade de ostentar seu faqueiro de
prata dourada com mais de 22 quilos fora da caixa. Em taças de cristal bacará
azul cobalto servia vinhos devidamente portugueses e em lindas porcelas
inglesas vinham linguiças e torresmos brasileiríssimos.
Apesar de tudo à época ser bem frito em banhas, as dez bistequinhas e as
dez linguiças poderiam perfeitamente seguir ao forno a 200 graus e cobertas
assam em 50 minutinhos curtindo sua própria gordura e soltando seu próprio
sabor. Neste embalo inove e coloque as bananas também na assadeira e ao invés
de fritá-las sirva cozida em tempero da carne.
Os ovos podem entrar na roda das iguarias saudáveis e serem feitos no
melhor estilo pochè: em água fervente com cinco gotinhas de vinagre, depeje seu
ovo com cuidado e deixe ali ele cozinhar um pouco antes de seguir para o prato.
Com tudo já assado, esquente o fundo de uma frigideira com duas colheres
de sopa de água e uma de sobremesa de açúcar. Rasgue as folhas de um maço
rechonchudo de couve e jogue ali salpicado com uma generosa porção de sal.
Volte sua atenção para a panela de feijão, solte bem lentamente o conteúdo de
uma xícara de farinha de mandioca e um maço de cheiro verde bem picadinho. Misture
tudo até obter um feijão bem cremoso.
Pelos dias de hoje podemos manter como tradicional o imbatível arroz
branco. Afinal, nem tudo é novidade. Apenas vestimos novas roupagens. Política
e amantes continuam a se misturar nas páginas de nossas histórias assim como
novas receitas de velhos pratos e jovens dons pedros e poderosas domitilas são
vistos e revisitados em mesas e ruas de todo Brasil em setembros do século XXI.
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